28 de jan. de 2008

CARAVAGGIO

"Não sou um pintor valentão, como me chamam, mas sim um pintor valente, isto é: que sabe pintar bem e imitar bem as coisas naturais."
Como eu não vou gostar de um homem desses?? Sei um pouco de artes plásticas. Bem pouco mesmo. Mas sei o suficiente para ter esse italiano louco como um dos grandes no mundo das artes. E que louco era Caravaggio. Essa frase por exemplo, ele disse em um dos milhares de julgamentos ao qual foi submetido ao longo de sua vida. Vira e mexe, se metia em duelos, furava um, matava outro e como todo bom filho da puta, quando a casa caía, recorria aos amigos influentes para livra-lo da cana. Assim vivia o cara. Dessa forma ele amava sua Roma.
A cidade o atraíra pelos grandes mecenas, pelo fausto da corte papal, pelo passado artístico. Mas não demorou muito para ele começar a cuspir nas estátuas clássicas e declarar que elas não tinham nada para ensinar-lhe. Não lhe interessava mais a Roma sepultada pelos séculos, que o Renascimento tentou ressuscitar com o mito do homem heróico. Preferia a humanidade vulgar mas atual das feiras e tavernas; Vendedores de frutas, músicos ambulantes, ciganos e putas. Teve essa gente toda como modelo para introduzir um tratamento revolucionário da luz, com prisma que decompõe e geometriza os componentes de um quadro. Lição aproveitada mais tarde por um Rembrandt ou um Vermeer, e levada às últimas conseqüências pelo cubismo de Paul Cézanne. Passa, portanto, breve mas fulgurante pelos céus da pintura, como clarão que tudo ilumina antes de extinguir-se.
E tudo com ele é nebuloso. Vejamos; Sua família se desinteressa do cara e com 16 anos ele foge para Roma. Passa o diabo na Capital. Boêmio e desordeiro, tem dificuldade em adaptar-se à mediocridade dos pintores oficiais, ávidos de encontrar favores junto aos poderosos. O adolescente de cabelos ruivos passa de um atelier a outro, de um protetor a outro.
Um destes, Monsenhor Pucci, lhe dá alojamento e uma dieta exclusiva de verduras. Recebe em troca alguns quadros e o apelido de "Monsenhor Salada". E sei lá se foi por excesso de salada consumida ou pelo que foi mas, o nosso artista foi vitimado então por uma malária. Só que vida de maluco não é fácil e ainda se varando em merda pela doença, Caravaggio tem que sair para procurar emprego. Vida dura... A única coisa que apareceu foi um bico com Cavalieri Dárpino cuja pintura de imediato já detesta; grandiloqüente, meio viada, alambicada, de temas mitológicos tratados com ênfase teatral e linhas rebuscadas, como nos quadros de Carracci. A ruptura é quase imediata: proibido de pintar figuras, Caravaggio abandona o míope mecenas e freqüenta novamente a gentalha que vegeta a sombra de magníficos palácios e barrocas igrejas.Não demora muito para ele arrumar a primeira grande confusão...
O deus do vinho e das orgias - Baco para os romanos, Dioniso para os gregos, é pintado com ar de travesti ou de gueixa japonesa, o corpo molemente inclinado, a oferecer uma taça e seus encantos de hermafrodita. É o conflito aberto e radical com os cânones artísticos da época, e também a divisão inconciliável entre admiradores e inimigos.Para dar uma acalmada na coisa, decide tirar um tempo no Egito mas, vagabundo é vagabundo em qualquer lugar e por lá, deu um jeito de desencadear essa tempestade que não se amainou por toda a sua vida...
Aproveitou a encomenda do Cardeal Francesco Maria Del Monte, para uma livre interpretação dos já manjados temas sacro.Sem apelar a um realismo excessivo, poetizando sua visão do homem e da natureza, Caravaggio faz uma pequena concessão ao gosto clássico: coloca um jovem semidespido ornado de asas que lhe conferem o aspecto de anjo musicista. São José lhe ergue a partitura, enquanto a Virgem - tão diferente das Virgens de Rafael - embala o Menino Jesus num gesto trivial. A luz que jorra sobre as faces e sobre os panos já antecipa a descoberta de Cézanne: a cor de um objeto determinada pela fusão da cor que lhe é própria com o raio de luz que nele incide. Porém Caravaggio tem da luz não só um conceito colorista, herdado dos venezianos de que era discípulo seu primeiro mestre em Milão, como também um conceito nitidamente plástico. Suas figuras destacam-se pelo ritmo dos gestos, pelo relevo quase físico das formas.
Os elementos acessórios do quadro - flores, regato, mochila, folhas - são reproduzidos com a minúcia reveladora de um amor panteísta a cada ente da natureza.Em Jovem Mordido por um Lagarto, a mesma atenta observação dos reflexos da luz sobre a água contida num vaso de flores casa-se a uma precoce e realista caracterização pessoal do personagem, que externa o espanto, a dor, o arrebatamento que o próprio pintor conhece diariamente.
Finalmente seu trabalho passa a ser reconhecido e os amigos dão um jeito de ajuda-lo nisso. Pelas mãos do amigo e protetor Del Monte, passa a freqüentar ambientes cultos e refinados. Mas a paciência de Caravaggio para tanta viadagem era pouca e então não se fazia de rogado em abandonar uma recepção aristocrática para confraternizar com a ralé que se reunia nas 1 022 tavernas que assolavam Roma. Comia bem, pagava barato, fumava feito uma chaminé e discutia ruidosamente até alta madrugada.
Passa um grande período tranqüilo. Em 1601, depois de mais uma reconciliação com seus ofensores, Caravaggio parece em paz. Não se irrita quando uma obra para a Igreja de Santa Maria Del Popolo é recusada, juntamente com outra, que reproduz o martírio de São Pedro, crucificado de cabeça para baixo. A primeira das recusadas, a Conversão de São Paulo,representa outra revolução na iconografia religiosa. "Onde está o santo?" - indagavam os maus entendedores -Aqui só se vê um cavalo!" Católicada burra da porra... Escapava-lhes tanto a simbologia do momento - quando São Paulo, o homem, caiu ao chão ofuscado pela visão de Jesus, na estrada de Damasco - como também a expressiva beleza transcendente que brota do vago foco de luz vindo de cima, a banhar o ventre do cavalo e inundar de claridade o rosto do santo. Colocando o centro do afresco no chão, Caravaggio documenta a insignificância do homem perante a divindade.A Crucifixão de São Pedro é toda em diagonais agudas que se entrechocam, simbolizando o conflito da brutalidade com a pureza (Tão vendo? Perto do Caravaggio eu sou uma moça!!). A colocação destacada, em primeiro plano, do traseiro de um dos algozes mereceu a acusação de vulgaridade. Na Deposição de Cristo, acentuam-se os elementos popularescos. A figura de Maria Cléofas, na extrema direita, que abre os braços num gesto incomum em Caravaggio, é considerada por críticos autorizados como um adendo posterior e anônimo.
Era o satanás, o Italiano! E assim continuou arrancando os cabelos do Vaticano, bebendo todas, pintando muito e gastando com tudo que é puta. Mas a trajetória de Caravaggio aproxima-se do fim. Em Roma, corroído de dívidas, recusa a oferta do PríncipeDoria Pamphili para decorar uma parte de seu palácio, hoje sede da embaixada brasileira na Itália. Insiste em pintar "quadros verdadeiros", certo de encontrar compradores e assim melhorar de situação.
Para acabar de fuder ele inventou de matar um certo nobre Tommasoni, durante um jogo de pallacorda, antepassado do tênis. É o último dia do mês de maio de 1606.Ferido ele próprio, e protegido pela família dos Colonna, escapa para Nápoles, onde muitos admiradores o acolhem. Ali pinta As Sete Obras de Misericórdia, ilustração dos atos de bondade enumerados no Evangelho (dar de beber aos sedentos, consolar os aflitos, etc.), que influi no desenvolvimento da pintura napolitana, e bem reflete o momento psicológico do autor: adensam-se as sombras, acentua-se o clima dramático.Enquanto em Roma seu perdão é pleiteado, ele se dirige à ilha de Malta, onde recebe a Cruz de Malta outorgada pelo grão-mestre da Ordem, Alof de Vignacourt, de quem executa dois retratos, além de uma Degolação de São João Batista. Mas, fora de controle, revida a ofensa de um nobre maltês e é encarcerado pelo severo regime militar ali vigente. Ajudado por amigos - crê-se que entre eles o próprio Vignacourt -, galga os muros da prisão e embarca à noite para a Sicília. Pressente a vingança no seu encalço. Muda de cidade seguidamente: de Siracusa a Messina, daí a Palermo, desta a Nápoles, no outono de 1609.
Ali, de forma melancólica, pinta sua última obra, dilacerada pelo sofrimento e pela inquietação: A Flagelação. Apenas o Cristo é plenamente iluminado, e irradia parte do brilho em tomo dos algozes, de corpos retesados num bailado grotesco e cruel.Pela segunda vez, Caravaggio fora abrigado em Nápoles por pessoas influentes, algumas ligadas à própria Ordem de Malta. Mas era tarde: os sicários do cavaleiro maltês ultrajado descobrem seu esconderijo. Perto de uma taverna, ferem-no a espada repetidas vezes. Sua força prevalece sobre os graves ferimentos. Recolhido e medicado, parece convalescer. A notícia de que o papa está prestes a conceder-lhe perdão e permitir-lhe o regresso a Roma anima-o a deixar Nápoles por via marítima. Todavia, não totalmenterecuperado, vertendo sangue, minado pela malária, ele morre numa praia deserta, no dia 18 de julho de 1610.Dias depois, junto com a barca onde tinha abandonado seus haveres, chega a Roma apenas um pregão lutuoso:"Tem-se notícia do falecimento de Michelangelo Caravaggio, pintor famoso como colorista e retratista baseado na natureza..."
Eu disse que voltaria aqui para falar de uma maneira “edificante” de morrer mas não sei se esse é o caso. Sei que Caravaggio foi importante demais por vários motivos. Um dos que mais me seduzem foi a capacidade de enfurecer muitos donos da cultura e árbitros do gosto da época. A esses, Caravaggio sempre deu de ombros.
Pintava para todos os séculos, não para o “seu” ou o “deles”.

25 de jan. de 2008

DESAFIO A CORRUPÇÃO; Uma História americana que não foi contada nem ao Bush, muito menos ao João Amazonas:


A primeira vez que vi esse filme foi pra lá de surreal. Lembro-me como se fosse hoje; Sábado, comecinho de madrugada. Eu namorava uma garota e as coisas que não iam lá muito bem, degringolaram naquela noite. Cansada de minhas “crises de iggy pop”, após uma briga de fazer inveja à Elis Regina e Boscoli, ela me botou para fora da casa dela e pela janela, jogou minha jaqueta jeans e mais dois discos do Lou Reed que sempre ficavam por lá. Era o BERLIN e METAL MACHINE. Do meio da rua eu ainda gritei:
“Joga o TRANSFORMER também!!”
Bem, ela não jogou...
Então vesti a jaqueta, enfiei os dois discos debaixo do braço e caí fora. No meio do caminho parei no posto 24 horas da minha vila e entrei na loja de conveniências que ficava lá. Não é essas coisas mas tinha um trocado no bolso. Comprei uma garrafa de uísque vagabundo e mais uns charutos duvidosos e rumei para minha casa crente, convicto de que amarraria ali uma noite de horrores, sofrendo, doido, “ébrio de amor”, lindamente cafona e ao entrar no meu quarto, iniciei bem o ritual; Arranquei o bico da garrafa para beber o uísque no beiço, peguei um disco da Nina Simone, acendi o charuto mas, sabe lá o diabo porque, antes resolvi ligar a televisão.
Caiu no canal 13 da TV Bandeirantes e percebi que subiam uns caracteres iniciais. Pude ler o nome do diretor; Robert Rossen. Aí decidi assistir a história de Eddie Felson (Que eu já conhecia de A COR DO DINHEIRO) e assim o fiz. Não dá para dizer se o uísque desceu bem ou mal mas, não sobrou uma gota na garrafa ao término do filme. Ao comentar o ocorrido com uma amiga minha ela me sapecou uma pergunta:
“Será que você se identificou com o Eddie Felso?”
Não sei. Naquela noite, talvez. Mas o filme nos remete para reflexões mais amplas que eu e minhas mancadas de amor. Novamente falarei de Lauren Smith, minha amiga americana. (Ainda bem que ela não me cobra royalites). Certa vez eu azucrinava a cabeça dela, porque o Bush disse em algum lugar que estava ouvindo Bob Dylan. Mas eu zoei muito e ela só me respondeu o seguinte:
“Marcelo, vocês não sabem nada, absolutamente nada do povo americano...”
Pensando sobre isso agora, vejo que há época sabia muito pouco mesmo. E aos que sabem tanto quanto eu sabia, o filme em questão pode ser bem útil. Afinal a história de tudo, vai muito além do filme e começa com a história da vida de um homem; Robert Rossen o diretor...
Rossen nasceu em Nova Iorque em 1916. Ainda jovem, tornou-se boxer e isso viria ser importante mais adiante em sua carreira cinematográfica. Junto com o boxe, por influência do pai judeu, conheceu o Partido Comunista e passou a ser um membro atuante, militante inflamado mesmo. Dentro do parido tomou ciência do cinema e de imediato se apaixonou por Frank Capra e Fritz Lang. Estudou teatro e estreou como roteirista em THE BODY AND BEAUTIFUL de 1936. Através desse filme, conseguiu contrato com a Warner Brothers e por lá iniciou uma trajetória gloriosa. Escreveu filmes como CRIANÇA É BOM (1940), BLUES NA NOITE (1941) e mais 10 filmes de sucesso até 1947 quando resolve estrear na direção com CORPO E ALMA.
Trata da estória de um boxer talentoso que ao decidir fazer carreria no boxe, se vê obrigado a aceitar as regras sujas dos bastidores do esporte. Boxe, era um assunto familiar para Rossen. A obrigação de aceitar o jogo dos canalhas ele aprenderia mais tarde... Nesse filme, Rossen trouxe uma atmosfera sensível e dramática, principalmente pelo excelente trabalho do fotografo mestre, James Wong Howe, que foi primeiro cara a filmar usando um patim para dar maior agilidade às cenas de dentro do ringue. A montagem de Rossen, foi lembrada pela academia e ele merecidamente ganha um Oscar por seu trabalho. Perdeu como Roteirista e John Garfield, perde como ator mas o impacto causado bastou; Era o auge.
Concorreu a melhor filme novamente com All King’s Man em 1949, filmou mais outros filmes, estava com tudo na América mas o inferno viria assolar sua vida. Chega o ano da graça de 1951 e o país assisti a efervescência do macartismo e seus asseclas. Começava à caça às bruxas e também aos comunistas.Começa a investigação de “atividades subversivas em Hollywood” e Rossen é chamado para depor. Interpelado pelos inquisidores recusa-se peremptoriamente a entregar nomes e entra para a Lista Negra. Começa a desgraceira...
Com o nome na lista, ficou impedido de trabalhar. Os produtores não podiam emprega-lo e a derrocada começava. Os filhos começam a passar fome, o álcool aumenta, a depressão o assola e sua diabete salta horrores. Em 1953 estava completamente entregue à morte. Então o marcartismo apresenta sua mais negra faceta. A chantagem. Em troca da licença para os filhos não morrerem de fome, o forçam a entregar 57 nomes para a lista. Totalmente desesperado, Rossen segue a risca à recomendação de um tal Richard Nixon e entrega todo mundo. Consegue a partir de então, além da licença, a eterna hostilidade dos companheiros de trabalho. Questão complexa demais para ele tentar entender. Então, trabalha.
Filma em 1954 o filme MAMBO. Depois consegue um relativo sucesso de público com ALEXANDRE O GRANDE (1956) e NA ILHA DO SOL (1957) mas, sua carreira nunca mais voltou a ser a mesma. Ficou quatro anos sem filmar até 1961, quando estava doente pracas e conta com o amigo James Wong e outro, Paul Newman, para filmar um roteiro antigo dele. Por intermédio de Newman, conseguiram contratar George C. Scoth, quase de graça. Schoth indicou Pipen Laurin e os estúdios pagaram Jackie Gleason. Pronto. Começaria a saga de Eddie Felso.
Tratava da estória de um jogador compulsivo que tinha um estigma pior do que aqueles que não sabem perder; Fala dos que não sabem vencer...
O inicio da trama já é visceral.
Em um salão de sinuca quando Eddie chega do Kentucky com seu sócio, uma espécie de empresário nos seus jogos, Charlie, a fim de desafiar o melhor jogador da região - Gordo Minnesota. O salão pára para o duelo dos dois jogadores que jogam por mais de 40 horas seguidas, num jogo estressante e cansativo com uma tensão presente em cada tacada. Eddie vencia o Gordo Minnesota que continuava a jogar seguindo ordens de seu sócio Bert Gordon (grande atuação de George C. Scott) que ao analisar a personalidade de Eddie concluiu que ele era um perdedor nato e orgulhoso e que era só esperar a hora de derrotá-lo, o que aconteceu ao fim das quarentas horas de jogo. Bêbado e sem dinheiro, Eddie abandona seu sócio Charlie e vagueia pela cidade sem destino.
Então encontra Sarah (Piper Laurie), uma mulher solteira, perdida, sem motivações e desamparada que tem como passatempo encher a cara na rodoviária logo cedo do dia. Depois de dois encontros casuais, eles acabam se juntando, já que possuem muitas amarguras e desencantos em comum.
A união de ambos se desenvolve bem por alguns dias, mas a falta de perspectivas, o medo do envolvimento sério e a obsessão de Eddie com a sinuca balançam seriamente o casal. Eddie, em busca de dinheiro, joga por qualquer quantia em espeluncas da cidade e após derrotar impiedosamente um adversário em partidas consecutivas mostrando todo o seu extraordinário talento é recriminado violentamente pelos jogadores do bar. Enquanto se recupera na casa de Sarah, ele é procurado por Bert para patrocinar seus jogos de sinuca. Eddie aceita embarcar numa turnê com seu novo sócio e decide levar consigo Sarah após uma emocionante conversa. Aliás, essa relação desde o inicio vive um uma turbulência insana.
Ela ama Eddie e não está nem aí para o jogo e Bert apenas visa lucro usando o talento de Eddie. O acordo dos dois é desfeito depois de um trágico acontecimento num quarto de hotel em Louisville. Modificado e com nova personalidade, Eddie Felson volta ao salão de sinuca do início para desafiar novamente o Gordo Minnesota e aposta seus últimos trocados. Disposto a mostrar que é o melhor jogador de sinuca, ele simplesmente trucida o Gordo, não lhe dá a mínima chance e realiza jogadas impensáveis e improváveis.
É contagiante a garra com que joga, a sua determinação em ganhar todas as partidas. É vibrante e estimulante ver o novo jogador que Eddie se transformou e como ele mesmo diz a Bert que acompanha o jogo : "Agora tenho algo mais que talento. Achei meu caráter num hotel de Louisville".
Eddie não é mais o perdedor nato de outrora que não preservava nem as pessoas que o amavam; agora ele é o melhor, imbatível e sabe disso. É emocionante verificar a sua descoberta. Antes de deixar o recinto, Eddie fala que o Gordo é um grande jogador de sinuca e esse agradece. Essa maravilhosa cena final é antológica, o confronto psicológico dos dois personagens memorável e o jogo de sinuca, se torna apenas o pano de fundo no jogo da vida. Inteligentemente, Rossen não corta logo a cena, talvez já prevendo um momento de reflexão do espectador.
Eu refleti há época. Descobri que os Estados Unidos tinham uma faceta que eu não conhecia, uma história oficial que ninguém falava e mais; No quanto à vida influencia na arte. Totalmente fudido da vida, Rossen passou toda a sua amargura para Eddie Felso e todos os problemas e desesperos para a relação suicida com a personagem Sarah, conseguindo uma atmosfera de perdição, de duas pessoas que, incapazes de amar sequer a si mesmos, seriam incapazes de amar qualquer outra coisa. A metáfora com a América do pós-guerra caiu sobre minha cabeça como um cataclisma e THE HUSTLER, (Título original) passou a ser então um dos maiores filmes da minha vida. E da vida de alguns também.
Newman se tornou um dos grandes nomes do cinema americano. George C. Schoth, idem. Já com DESAFIO À CORUPÇÃO, concorre a um Oscar de melhor ator coadjuvante. Naquele ano, perdeu para a soberba atuação de Maximilian Shell com JULGAMENTO DE NUREMBERG. Em 1986, Newman voltou em parceria com Martin Scorcese para a continuação do filme; A COR DO DINHEIRO, contado com Tom Cruise no elenco. Rossen?
Morre amargurado em 1966. Anos depois seu filho, Stephen Rossen lançou uma biografia contando todo drama vivido pelo pai. E agora vem a eterna questão de novo; Que importa o jeito que o cara morreu? DANE-SE! Para mim importa a obra, o trabalho, a arte de um cara que é uma puta referencia no cinema americano. Um homem que conseguiu jogar luz na América desqualificada, derrotada, que fica bem longe dos suntuosos muros da casa Branca. Aos que lerem isso, que tirem seu próprio juízo. Apenas aproveito para avisar que a Warner esta lançando uma nova cópia, restaurada em dvd. Assistam e depois volto aqui para discutirmos uma forma “edificante” de cada um morrer...

15 de jan. de 2008

NOTAS BRETÔNICAS:

RENATINHO, O CRAQUE...


Após um sábado pra lá de Lou Reed, fui ressuscitado da cama, domingo de manhã pelos berros no portão de meu amigo Pedrinho.
Pedrinho...
É meu amigo de longa data. O conheci lá pelos idos de 1982 quando o Esquerdinha montou um time no Parque Novo Oratório que ficou conhecido como “A Máquina”. O E.C Nacional Das Nações, tinha no infantil uma equipe poderosa que foi campeã de absolutamente tudo que disputou, inclusive o afamado De Paula Esportes, que passava aos sábados na Tv Gazeta. Só não vencemos o DEFI (Departamento Estadual De Futebol Infantil) porque me lembro que numa decisão na Rua Javari, fomos escandalosamente garfados contra o Juventus e o gosto daquele 1x0 me é amargo até hoje. Aliás, quando eu comandava esse esquadrão, esse negócio de 1x0 era o placar típico dos covardes. Timinhos pífios que faziam um golzinho e depois se postavam os dez jogadores atrás da linha da bola. “Comandava”?? Pois é...
Eu era o camisa 10 daquele time. E naquele domingo, meu parceiro, amigo, meia direita de oficio, Pedrinho, me fez recordar daquela época.
Veio em casa e me chamou para ir ao campo do Nacional para assistir um jogo do time que luta pela 1º divisão da várzea de Santo André ou coisa que o valha. Acordei, joguei uma água na cara e fui para o distrital da Rua América do Sul. Chegando lá encontrei o pulguinha que está há uns 30 anos no clube. Veio logo brincando:
“Fala mascara...”
“ E aí Pulguinha... da um abraço aqui...” – Ele veio e disparou:
“Marcelo eu lembro que você era descarado. Se você soubesse quem usou aquela camisa 10 tua, você nem perto dela chegava...”
Pois é, Pulga. Acontece que nos 11 anos que eu fui dono dela, não apareceu ninguém para me tira-la. Então baixa a bola...”
E todos riram. Emoção. Olhando para aquele campo cuja grama ralada manifestava certo descaso, me lembrei de alguns dos melhores anos da minha vida. Pedrinho lembrava de partidas antológicas nossas e de como o bairro parava para ver aqueles meninos jogaram. Lembrou de um jogo contra o Ipiranga em que metemos um 7x0 nos caras pela decisão do Interligas, das batalhas campais contra o Santo André E.C, que era nosso freguês e vitima predileta e por aí vai. Falamos desses nossos feitos até a hora do jogo contra o Guaraciaba. Foi então que me apresentaram o “craque”.
“Marcelo esse é o Renatinho – Falou-me o Pulguinha – Agora é ele que veste a 10 aqui...”
Veio em minha direção. Garoto alto, 22 anos, bem criado, de chuteiras importadas nos pés, nariz empinado e gestos coreografados. Olhou-me com curiosidade e uma certa desconfiança. Deu-me a mão frouxa e começou a falar. Disse que sempre ouviu muitas histórias minhas por lá no Nacional e de como eu mandei bem por lá. Disse que seu empresário estava mantendo contatos, que provavelmente voltará a Europa e de que sua estada no Nacional era uma passagem para se manter em forma até lá. Perguntei o lugar da Europa e ele me respondeu:
“Malta. Primeira divisão!”
Bem... Fiquei quieto e esperei pelo jogo. O sujeito começou a jogar. E era um tal de mão na cintura, gestos copiados, manias e, passes errados, chutes tortos, raciocínio lento... “Fake”, pensei. Mas vá lá...
De que futebol falamos?
Esqueçam, Pelé, Puskas, Didi, Garrincha, Zizinho e Ademir Da Guia. E também nem pensem em Pita, Zico, Falcão, Luizinho, Andrade, Platini, Maradona e Adílio. Vivemos hoje no país do Dunga, Julio Batista, Elano e... Marcinho Guerreiro, Betão, Gustavo Nery... A garotada já não sabe da realidade do Palmeiras, Santos, Sport, Bahia, Flamengo, sabem sim, do dia a dia do Manchester United, Milan, Liverpool e afins. Já não importa mais um jogador marcar a história de um clube, criar raízes, nada. O lance é jogar duas partidas boas, fazer três gols e ir embora para os euros da Itália, Alemanha e Espanha. Ou Malta...
Nessa nova ordem social, Renatinho tem lugar sim. Quem sabe se daqui uns dias ele não aparece num desses “tele-barracos” televisivos de domingo à noite, (Esses programas ditos de Esporte que mais parecem supermercados) falando da rodada e tudo mais? Vai saber. Por hora, lhes informo que o jogo acabou 3x0 para o Guaraciaba e nosso “craque” saiu no intervalo do primeiro tempo, reclamando de “um puxão na coxa...”
Pois é...

12 de jan. de 2008

MILTINHO

Quinta feira última, fui convidado pelo Robson Timóteo e pela Livia Mannini, para participar da produção do mais recente projeto da Livia no Sesc Pompéia, O SAMBA PEDE PASSAGEM, que tem como objetivo, fazer um trabalho de resgate da memória da musica popular (A de verdade) brasileira. Com a apresentação de Moisés Da Rocha, quatro shows serão realizados, com grandes intérpretes, cantando clássicos de outros grandes compositores. E aí começa a história...
Chegando no Sesc, a Livia me incumbiu de uma tarefa:
"Marcelo, você pode acompanhar o Miltinho até a hora do show? Ele gosta de uma conversa e você é bom nisso..."
Porra...
Eu tinha uns 10 anos de idade quando uma musica no último volume do som da minha casa chamou minha atenção:
"Pai, que musica é essa?"
"E o Juiz Apitou, filho."
"E quem canta?"
"O maior cantor de samba do Brasil, filho... Miltinho"
Dali por diante me familiarizei com a voz anasalada e pecualiar daquele grande cantor. Ouvi gravações históricas dele, com a Doris Monteiro, Boleros lindamente cantados, gafieiras sacolejantes e em bem pouco tempo, virei um fã alucinado do homem. Pois bem... Passados esses vários anos, minha amiga me incumbe de passar uma das melhores tardes de minha vida. Era umas 16:30h quando ele chegou no Sesc. Bem humorado, vestido num terno branco de linho impecável, ao lado de Lito Robredo, veio até nossa direção:
"To chegando garotada!"
"Opa... Uma honra minha receber o senhor, Miltinho... Fica a vontade."
"Senhor, ta no céu , e, a vontade, só de bermuda e chinelo..." - Falou rindo.
Feita as apresentações, Livia foi correr atrás dos último detalhes, Robson foi montar a aparelhagem da projeção de imagens que ele iria fazer e ami, coube, o prazer da companhia do mestre.
Perguntei como foi o inicío de sua carreira nos anos 40 e em meio a uma viagem no túnel do tempo, ele me contou tudo:
"Ah garoto... Foi lá na Rua Correia Dutra, no Rio. Montamos o grupo CANCIONEIROS DO LUAR, para cantar no programa do Ari Barroso. Então durante 365 dias ensaiamos uma bendita musica e você não me pergunte qual que obviamente não vou lembrar. Enfim; Tiramos uma nota "5", vá... Alí comecei como ritmista. Tocava pandeiro. Depois participei de outros grandes conjuntos como ANJOS DO INFERNO e MILIONÁRIOS DO RITMO, até chegar na ORQUESTRA TABAJARA, onde em 1950, comecei essa brincadeira de cantar"
Aí o papo engatou. Bom de conversa, Miltinho me falou de sua amada Laranjeiras onde mora ha mais de 40 anos embora faça questão de ressaltar; "Sou Flamengo". Do quanto lhe causava calafrios a beleza de Dóris Monteiro e de como era brava a mãe da mesma. Causos e causos da boemia carioca, das noites paulistanas. Falou com carinho de seus grandes amigos, Ataulpho Alves, Altemar Dutra, Zeca Pagodinho, Jair Rodrigues e uma carinho todo especial por Noite Ilustrada; "Esse foi um grande amigo, garoto. Cantava como ninguém, fino, elegantissímo... Tenho uma saudade danada do Noite..."
Falei de sua simpatia e ele disparou:
"Mas porra... Velho, nanico e chato; Quem aguenta?" - E eu dava risada...
Ficamos juntos até a hora do show, quando ele se emocionou ao ver na tela uma imagem do amigo Luiz Antonio. Foi as lágrimas e agradeceu ao Robson, pela lembrança. Ao nos desperdirmos, recomendou lembranças a minha mãe, a qual disse ser sua fã e muita prudencia ao volante.
"Esse transito é um inferno..."
Disse ao mestre que ficasse tranquilo, pois iriamos devagarzinho. Chegeui em casa feliz da vida, tomei um banho, liguei a tv e tinha lá um show do Jeito Moleque, reprisado, na madrugada. Não fiquei triste.
Desliguei a tv e fui dormir...

ALGUMAS REFLEXÕES DE SEXTA FEIRA; ELUCUBRAÇÕES NO HORÁRIO "NOBRE" DA TV ABERTA...

E que acontece de novo na República Federativa Das Bananas? Bem...
O Santos contratatou Marcinho Guerreiro (Que tem como principal inimigo de suas batalhas, exatamente a bola...), Na novela das oito na Rede Globo de televisão, o autor criou um Hugo Cesar Chaves, que atende pelo nome de Juvenal Antena, a mocinha mais gostosa do Big Brother não quer dar pra ninguém, no Telecine passa Claude Chabrol, no CCBB, tem Bang-Bang, do Andrea Tonacci e minha amiga Giuliana diz que sou elitista. Ai, ai...
Quanto ao Chaves/Fagundes; Não morro de amores pelo sujeito. Aliás, para mim, não há diferença nenhuma entre um ditador e outro, ou seja; Pouco importa se um tortura, assassina e mata e outro, é populista, previsivel e louco. Ambos são tiranos. Se perpetuam no poder as custas da pobreza, da ignorância e porque não, através da boa fé do povo para disseminar o seu complexo de Nero, ou senão, via força, debaixo de choques elétricos, pau de arara, fuzilamentos e decretos, ou "AI's", como queira.
No entanto, vejo com o mesmo nojo, uma emissora de televisão, um grupo falido, caloteiro e quebrado, que vestido com o smoking da democracia, alardeia uma cruzada hipócrita, calculada e sistemática sem a menor coragem de vir a público e dizer; "O Chavez nos incomoda e detestamos ele." Não. Ao invés disso, "Somos isentos e nos atentamos apenas aos fatos". Porra nehuma! Nunca os olhos do mundo se voltaram para a Venezuela para tentar entender o que acontece por lá. A pobreza daquele povo, nunca conseguiu 30 segundos do Jornal Nacional para que soubessemos o que rola por aquelas terras e nenhum enviado especial quer saber o que pensao povo pobre de Maracaibo, por exemplo. E vejam, se hoje a coisa é diferente, até que ponto o Chaves tem mérito nisso? Mérito?? Sei lá...
Sei que, maluco por maluco, prefiro um que seja latino e camponês, a outro, texano e idiota. Seja lá como for, nenhum dos dois é um maluco jungano como bem obervou minha amiga Livia em outras circustâncias.
E Chabrol no Telecine? Legendas em português, dublagem em inglês! Depois eu que sou chato...
O Tonacci no CCBB era uma boa pedida mas, atividades pouco cristãs e muito prazerosas, me impediram de assisti-lo novamente. Dei um jeito. Fui até aos incrivelmente olhos azuis de Giuliana e pedi o velho vhs emprestado. A linda amiga, resolveu então dar uma alegria a esse pobre e velho roqueiro e me convidou para entrar e assistir com ela. Maravilhoso exercicio de cinema, inventivo, experimental e inovador com uma atuação impecável de Paulo Cesar Peréio. Que filme! Ao término do mesmo a televisão caiu no então afamado Big Brother Brasil.
A Giuliana me falava dos encantos da mocinha do programa que não queria dar pra ninguém, de um psiquiatra que vive o drama de revelar ou não sua sexualidade para os 14 membros da casa, embora tenha revelado para todo o Brasil e mais uma outra série de assuntos que envolvem a tal casa global. Fiz um comentário, ou um gesto de indiferença e minha amiga mandou essa:
"Da pra deixar de lado esse asco todo das coisas populares, senhor Marcelo? Você mesmo ja escreveu sobre uma série de circustancias que levam esse povo a ver esse tipo de coisa, inclusive, inocentando-os! Agora, quando te faço um cometariozinho, você me responde com essa cara de Regis Debret e empina o nariz! Qual é, Basco?"
Bom... Não sei até que ponto esse tipo de programa é "popular". Aqui no do Parque Novo Oratório, nunca vi ninguém. É claro que de vez em quando alguém do subúrbio do Rio aparece por lá para contrariar a regra, mas nunca, esse mesmo vivente passa pela peneira global. É sempre um sorteio, um concurso, algo pra mostrar que o povo participa sim, ô... Não tenho cara de Debret, porque ele era um demonio de feio. Apenas defendo meu direito de não ser politicamente correto, nem de fazer a alegria da meia dúzia boazinha que passa a mão na cabeça do povão contemporizando tudo quanto é coisa. Digo sim o que penso, sem me preocupar no quanto isso pode ou não ser relevante a outrem. Finalmente...
Espero que os Templários modernos me entendam...