Quinta feira última, fui convidado pelo Robson Timóteo e pela Livia Mannini, para participar da produção do mais recente projeto da Livia no Sesc Pompéia, O SAMBA PEDE PASSAGEM, que tem como objetivo, fazer um trabalho de resgate da memória da musica popular (A de verdade) brasileira. Com a apresentação de Moisés Da Rocha, quatro shows serão realizados, com grandes intérpretes, cantando clássicos de outros grandes compositores. E aí começa a história...
Chegando no Sesc, a Livia me incumbiu de uma tarefa:
"Marcelo, você pode acompanhar o Miltinho até a hora do show? Ele gosta de uma conversa e você é bom nisso..."
Porra...
Eu tinha uns 10 anos de idade quando uma musica no último volume do som da minha casa chamou minha atenção:
"Pai, que musica é essa?"
"E o Juiz Apitou, filho."
"E quem canta?"
"O maior cantor de samba do Brasil, filho... Miltinho"
Dali por diante me familiarizei com a voz anasalada e pecualiar daquele grande cantor. Ouvi gravações históricas dele, com a Doris Monteiro, Boleros lindamente cantados, gafieiras sacolejantes e em bem pouco tempo, virei um fã alucinado do homem. Pois bem... Passados esses vários anos, minha amiga me incumbe de passar uma das melhores tardes de minha vida. Era umas 16:30h quando ele chegou no Sesc. Bem humorado, vestido num terno branco de linho impecável, ao lado de Lito Robredo, veio até nossa direção:
"To chegando garotada!"
"Opa... Uma honra minha receber o senhor, Miltinho... Fica a vontade."
"Senhor, ta no céu , e, a vontade, só de bermuda e chinelo..." - Falou rindo.
Feita as apresentações, Livia foi correr atrás dos último detalhes, Robson foi montar a aparelhagem da projeção de imagens que ele iria fazer e ami, coube, o prazer da companhia do mestre.
Perguntei como foi o inicío de sua carreira nos anos 40 e em meio a uma viagem no túnel do tempo, ele me contou tudo:
"Ah garoto... Foi lá na Rua Correia Dutra, no Rio. Montamos o grupo CANCIONEIROS DO LUAR, para cantar no programa do Ari Barroso. Então durante 365 dias ensaiamos uma bendita musica e você não me pergunte qual que obviamente não vou lembrar. Enfim; Tiramos uma nota "5", vá... Alí comecei como ritmista. Tocava pandeiro. Depois participei de outros grandes conjuntos como ANJOS DO INFERNO e MILIONÁRIOS DO RITMO, até chegar na ORQUESTRA TABAJARA, onde em 1950, comecei essa brincadeira de cantar"
Aí o papo engatou. Bom de conversa, Miltinho me falou de sua amada Laranjeiras onde mora ha mais de 40 anos embora faça questão de ressaltar; "Sou Flamengo". Do quanto lhe causava calafrios a beleza de Dóris Monteiro e de como era brava a mãe da mesma. Causos e causos da boemia carioca, das noites paulistanas. Falou com carinho de seus grandes amigos, Ataulpho Alves, Altemar Dutra, Zeca Pagodinho, Jair Rodrigues e uma carinho todo especial por Noite Ilustrada; "Esse foi um grande amigo, garoto. Cantava como ninguém, fino, elegantissímo... Tenho uma saudade danada do Noite..."
Falei de sua simpatia e ele disparou:
"Mas porra... Velho, nanico e chato; Quem aguenta?" - E eu dava risada...
Ficamos juntos até a hora do show, quando ele se emocionou ao ver na tela uma imagem do amigo Luiz Antonio. Foi as lágrimas e agradeceu ao Robson, pela lembrança. Ao nos desperdirmos, recomendou lembranças a minha mãe, a qual disse ser sua fã e muita prudencia ao volante.
"Esse transito é um inferno..."
Disse ao mestre que ficasse tranquilo, pois iriamos devagarzinho. Chegeui em casa feliz da vida, tomei um banho, liguei a tv e tinha lá um show do Jeito Moleque, reprisado, na madrugada. Não fiquei triste.
Desliguei a tv e fui dormir...