Vira
e mexe eu me pego aqui falando da Banca Rebel Music de Santo André.
Um Sebo, uma banca mesmo... Dos meus amigos Tonho e Chico. E se eu
escreve 500 laudas falando da importancia desse espaço seria pouco!
Em
uma época em que não existia informação, grana e muito menos
conhecimento, esses dois irmão eram um oásis no meio do oceano de
nada que era Santo André. Jamais sonegaram nada; Paciencia,
educação, amizade, gentileza, compreensão e informação.
Assim
como eu que cheguei por alá em 1991, outros tantos caras, uma
geração toda se formou ali com esses caras que conheciam
absolutamente tudo de musica. Eu passava tardes inteiras ali falando
com eles e nessas prosas sempre aparecia uma parada nova. Numa dessas
apareceu o disco que será comentado aqui em ALBUNS CLASSICOS:
Senhouras
e senhoures, com vocês FEITO EM CASA de 1977, por Antonio
Adolfo...
Era
um dia de semana e cheguei na banca meio que hipnotizado por um som
quebrado, suingadão que Tonho ouvia ainda na velha Pickup:
“Porra
que quebradeira fantastica! Que é isso ae Toinho??”
Ele
deu aquele riso sábio e mandou:
“Isso
é um musico carioca dos anos 60 e 70, Marcelo. Chama Antonio
Adolfo...”
“Hummm...
muito foda Tonho! Das antiga né?”
“É
então...”
E
então começava mais uma aula. Mas eu vou ser eternamente grato ao
Tonho... Foi ele que me ensinou:
Antonio
Adolfo é de fina estirpe; Sua mãe era violinista da chiquetésima
Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Por lá, ainda
menino começa a dar suas primeiras sapatadas musicais. E em meio a
fagotes, violinos, violoncelos e maestros o menino se apaixonou pelo
piano. Subiu em cima dele e aprendeu demais, tanto que aos 16 anos já
era solicitado musico do fechado clube da bossa nova. Por lá, pegou
uns contatos e passa a tocar em umas boates de jazz de ipanema e
cercanias. Ae surge o primeiro grande contato...
Apaixonado
pelo virtuosismo do menino, Vinicius de Moraes o convida para montar
um grupo, o Trio 3-D para participar do musical “Pobre Menina
Rica” de 1964. No meio disso tudo em 1968 arrebenta a boca do
burro com o sucessão “Sá Marina” além de
conhecer Tibério Gaspar e passa a trocar idéias com o parceiro que
vão acabar em “Juliana”, musica a ser interpretada
por outro grupo seu que da muito certo, a psicodélica Brazuca. Eis
que chega o segundo grande contato:
A
partir de 1969 a Deusa Maysa passa a lhe dar grande força ao
chama-lo para assinar os arranjos de seu disco homonimo daquele mesmo
ano, o sensacional Maysa onde ele emplaca quatro canções
cantadas pela Diva. No ano seguinte a consagração ao lado do
parceiro Tibério Gaspar:
Na
fase nacional do V Festival Internacional da Canção, Tony Tornado
bota o o maracanãzinho abaixo ao som de BR-3. Um baita
soul, com apoio do Trio Esperança nos backing vocals. Vitória
aclamadora! Pinta uma grana e então Tibério decide picar a mula
para os EUA, onde estuda jazz, toca e pensa em um projeto seu. Quando
volta em 1977 chega a hora de meter a mão na massa.
Com
o tempo vivido nos EUA Antonio passa a ter uma nova visão da
industria fonográfica, do mundo do espetáculo e do negócio da
música, Se grila muito com o esquemão das gravadoras e saca que seu
projeto de muita qualidade, muito pessoal e muito caprichado não
terá espaço no varejão musical das majors. Então decide ter uma
idéia ousadissima para época:
Lançar
o seu disco de maneira independente. Veja bem, caro leitor; Estou
falando em lançar um disco independente no Brasil de 1977!! Pois
bem...
Munido
de um espirito empreendedor, Antonio corre atras de um estudio que
será o Estudio de Gravações da Arquidiocese do Rio De Janeiro.
Preço bão, pertinho, os padres todos bonzinhos... Foi lá mesmo! Ae
monta a banda.
MA
QUE PUUUUUUUUTAAAAAAAAA BANDA!
Rubinho
– bateria, Jamil Joanes e Luizão Maia –
baixo, Luiz Claudio Ramos – guitarra, Márcio
Montarroyoios – trompete, Oberdan Magalhães –
sax, Danilo Caymmi e Franklin – flauta, Suzana,
Luna e Marcio lott – vocais, Ariovaldo –
percussão e as cantoras Joyce e Malú.
Só
feras! Ae num tem como dar errado.
O
disco é um espetaculo com musicas divinas como a faixa titulo FEITO
EM CASA que já abre o disco botando todo mundo pra levantar da
cadeira. Um samba soul sacolejante e irresistivel. Passa pelo doce de
voz de Joyce em ACALANTO, arrebenta com o solo de pinao de
Antonio Adolfo em CHICKOTE, uma homenagem dele ao amigo Chick
Corea, um arrebento de inovações com metais em ataques
intermitentes e lindos. Um disco perfeito. Ae veio a parte suada da
coisa...
Como já
previsto pelo Maestro Antonio, ninguem, nenhuma radio quis tocar a
parada. Mas sem crise; O Homem pegou as bolachas, o talão de notas
fiscais e caiu em campo para negociar diretamente seu produto com
lojistas, com as radios mais descoladas, com produtores, fonogramas,
direitos autorais e tudo mais. Não da pra dizer que foi um sucesso
de vendas e tudo mais e nem é o mais importante.
Antonio
Adolfo consegiu vender 3000 mil cópias. Se fosse numa major da época
provavelmente, teria a mesma vendagem e não ganharia um puto. Com
feito em casa lançado pelo seu selo o Artezanal, o maestro
conseguiu pagar todo mundo, divulgar seu trabalho, fazer uma rapa de
shows e ainda ganahr uns caraminguá justos para comprar um fusquinha
decente. O resto é história...
FEITO EM
CASA é um disco raro, disputado a tapa, porrada, beliscão e
rabo de arraia pelo mundo afora. Em um sebo de Londres, ou em uma
feira em Piccadily Circus ele não custa menos de 100 euros. Azar de
quem ta por lá e não tem a Banca do Tonho...
Hoje, vamos
deixar com vocês a musica FEITO EM CASA para dar um
gostinho da cousa. O presente ta nas capas ae, quem quiser só
clicar nelas.
No player ae
embaxo, só tascar o player e perigas ver. Bora lá!
Tasca o play:
3 comentários:
Querido Marcelo Mendez você é um grande conhecedor de música e da forma que escreve é tão fácil de visualizar toda aquela época! Só fera nesse seu texto, hein?
E eu estou aqui ouvindo esse som que mistura baião com pegada soul...Nem vamos classificar..É música da melhor qualidade!
Beijos Musicais!
Giselle Maria
Obrigado Gigi's! Mas vc que é ótima cantora, mulher de grande sensibilidade sacou legal a faixa. é isso ae mesmo a mistura amore!
beijones
Jello Biafra adora Antonio Adolfo!!
Parabéns pelo blog
Alcemir
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